Há um bom tempo,
apesar da sua reconhecida juventude, os blogs deixaram de
ser um mero diário em que pessoas solitárias,
angustiadas ou sedentas de fama, registravam suas falas
e emoções. Embora essas alternativas continuem
acontecendo cada vez com maior intensidade, os blogs assumiram
também, em um número surpreendente de casos,
um perfil corporativo, ou seja, passaram a impactar o mundo
dos negócios.
Jornalistas, intelectuais,
executivos e mesmo cidadãos comuns, mais ou menos
informados, passaram a dispor dos blogs para tecer comentários
sobre as organizações, seus produtos e serviços,
sua atenção ao consumidor, sua responsabilidade
social e em particular suas mazelas gerenciais. Um “pega
pra capar” virtual que tem assustado as empresas,
sobretudo as grandes corporações, porque estas,
como as demais manifestações pela Web, não
são fáceis de serem combatidas. Sequer chegam,
na maioria dos casos, a terem sua origem identificada e,
o que pior, qualquer represália se faz acompanhar
de um efeito multiplicador que pode ser fatal. Tirar o vídeo
da Cicarelli do You Tube não é tão
fácil, como puderam perceber os seus advogados, e
o sucesso desta iniciativa pode representar a deflagração
de um desastre de imagem ainda maior.
O mundo empresarial
já tem exemplos contundentes de que é necessário
levar os blogs a sério. Em 2004, a Kryptonite, uma
empresa fabricante de cadeados e travas para bicicletas
sofisticadas, foi surpreendida com a divulgação
pela Web de que os seus cadeados em forma de “U”
podiam ser facilmente abertos com uma simples canetinha
Bic. Não se preocupou adequadamente, foi lerda em
sua reação, até que alguém resolveu
fazer um vídeo explicativo de como abrir facilmente
o cadeado e colocou no blog Engadget, bastante popular.
Quando não foi mais possível evitar o estrago,
a empresa correu atrás do prejuízo para dar
assistência aos seus clientes e, é óbvio,
melhorar a segurança dos cadeados. Hoje, a diretora
de mídia da Kryptonite não deixa de vasculhar
os blogs, buscando antecipar-se aos problemas.
Os modernos estrategistas
da comunicação corporativa acreditam que as
organizações precisam acordar definitivamente
para a força e a importância dos blogs porque,
muitas vezes, são neles que os problemas aparecem
em primeiro lugar. Consumidores mencionam nos seus blogs
as virtudes e os defeitos de produtos e serviços
e se valem deles para atacar a reputação de
empresas que os desrespeitam. Inimigos das corporações
também utilizam destes novos recursos para mover
campanhas, algumas difamatórias, outras merecidas,
contra os seus abusos e monopólios.
Os blogs têm
a capacidade (que não deve jamais ser subestimada)
de fazer explodir as crises, sobretudo quando seus comentários
e denúncias estão respaldados em verdades
ou meias-verdades, e as organizações precisam
estar capacitadas para se antecipar a elas.
Os blogs corporativos
têm ganhado espaço no mercado e mesmo no Brasil
já há literatura a respeito, como o livro
Blog corporativo, de Fábio Cipriani, que tem
como subtítulo : Aprenda como melhorar o relacionamento
com seus clientes e fortalecer a imagem de sua empresa.
Já chegou também ao mercado o livro clássico
Blog: entenda a revolução que vai mudar
seu mundo do guru tecnológico Hugh Hewitt, um
influente colunista americano.
Há de se ressaltar
que algumas empresas e agências de RP/Comunicação,
embora atentas para a importância dos blogs, os têm
utilizado de maneira não ética. Esse foi o
caso do Wall Mart, que forjou mochileiros em viagem pelos
EUA, hospedados em seus estacionamentos, para vender a sua
imagem de empresa ética (bom relacionamento com seus
empregados etc), assessorado por uma empresa de Relações
Públicas de prestígio, mas que tem uma trajetória
marcada pelos trabalhos de “limpeza de imagem”
(ganha dinheiro como advogado na porta da cadeia). No Brasil,
recentemente, circulou a notícia de uma empresa de
RP (era a mesma?) que queria contratar um jornalista para
criar um blog para defender os pilotos do Legacy que causou
a queda do avião da Gol e matou cerca de 150 pessoas.
As empresas de bebidas,
de cigarros, de alimentos (sobretudo voltados para crianças
e jovens) e outras com produtos não menos éticos,
estão buscando nos blogs influenciar o consumo, penalizando
certamente os seus públicos-alvo.
Fica claro que não
são apenas cidadãos, pessoas comuns que se
valem dos blogs para campanhas difamatórias para
causar prejuízos e atentar contra a ética.
Corporações e agências a seu serviço
fazem também o jogo sujo. Para elas, guerra é
guerra e são capazes de qualquer coisa por dinheiro.
De agora em diante, os blogs realmente não serão
apenas diários de jovens, mas armas em mãos
poderosas. Todo cuidado é pouco.