Volume 3
Número 4

20 de julho de 2006
 
 * Edição atual    
Documento sem título

          As redações precisam retomar sua autonomia

          As redações dos nossos principais veículos estão sendo, gradativamente, assaltadas pelos interesses comerciais e políticos e exibem, ostensivamente, sinais de fraqueza. As pautas originam-se sobretudo de fora das redações e a independência editorial vê-se fatalmente comprometida. Os departamentos comerciais passam a desfrutar de privilégios e influenciam de maneira nociva a linha editorial. Os jornais já não são como antes.

          A observação não é gratuita. Temos assistido a esta investida todos os dias e ela contribui para tornar os nossos veículos cada vez mais distantes da sociedade.

          Nas reuniões anuais da ANJ, e na fala diária dos principais empresários, a preocupação maior tem sido o desenvolvimento de ações, estratégias e produtos para atrair os anunciantes, ainda que à custa da independência dos veículos, como se a saída para os jornais e revistas, não devesse ser forjada dentro de casa.

          O jornalismo brasileiro, com as exceções de praxe, vem perdendo a sua capacidade investigativa e se tornado refém de pautas geradas por agências de comunicação e assessorias de imprensa, realmente competentes, muitas delas a serviço de interesses inconfessáveis, como os que são associados a determinados representantes da indústria da saúde, da indústria agroquímica, de governos etc.

          Nota-se, também, o crescimento da relação promíscua entre repórteres/ colunistas e agências (às vezes, deles próprios), que, continuamente, favorecem os seus clientes (as denúncias neste sentido têm crescido bastante) e, em particular, a explosão de "projetos de mercado" e dos nefastos "publieditoriais", propaganda travestida de matéria jornalística.

          O jornalismo brasileiro vai se tornando numa atividade burocrática, um mero balcão de negócios como qualquer outro, completamente desvinculado de seu compromisso com o interesse público.

          Alheios a esta questão, sindicatos e federações continuam brigando pela regulamentação profissional, estudiosos do Jornalismo sinalizam para os crescimento dos blogs como ameaça real aos veículos e jornalistas, sem se darem conta de que o inimigo está dormindo ao lado.

          As redações precisam recuperar a sua autonomia, a sua dignidade, a sua independência. Os veículos, que tanto se esmeram em denunciar os abusos dos outros, precisam olhar para o próprio umbigo. A notícia, qualificada, independente dos grandes interesses, continua sendo a matéria prima mais valiosa. Degradá-la é apostar contra o futuro. Quem viver, verá.

 

 
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