Nilton
Pavin é tem 44 anos e 22 de profissão. É
jornalista formado pela Metodista com pós-graduação
em Planejamento Estratégico em Comunicação,
também pela Metodista. Nos anos 1980, trabalhou na comunicação
da Pirellli, foi editor de várias revistas, como Imprensa,
Náutica e colaborou para importantes revistas e jornais
do País. Atualmente é coordenador de comunicação
da RP1 e trabalha com as seguintes empresas: Companhia de Concessões
Rodoviárias (CCR), Submarino e Energias do Brasil. Tem
dois livros publicados: Imagens da Paz e Imagens Proibidas.
Comunicação &
Estratégia: Defina Governança Corporativa e
Novo Mercado (puxa, não precisa fazer um tratado, mas apenas
explicite os termos ou conceitos para os que ainda não
se acostumaram com eles).
Nilton Pavin: Governança
Corporativa é o conjunto de regras societárias adotadas
por uma companhia para melhorar a relação entre
acionistas, diretoria, conselho de administração
e gestores. O método de administração - baseado
na governança corporativa - de qualquer companhia deve
estar alicerçado em uma postura transparente, justa e responsável.
Hoje, definitivamente, a transparência nas ações,
a equidade, a prestação de contas, o cumprimento
das leis e a ética são fundamentais para garantir
o fluxo de informações entre todos os públicos-alvos.
Comunicação &
Estratégia: Qual a importância da Governança
Corporativa e que vantagens as empresas que a praticam usufruem
direta ou indiretamente?
Nilton Pavin: O Novo Mercado
é um segmento dentro da Bovespa que adota regras de listagens
diferenciadas. Participam desse mercado apenas as empresas que
se comprometem não só com a adoção
das rígidas práticas da governança corporativa
mas, sobretudo, com a transparência de suas ações
em relação ao que a legislação exige.
Comunicação &
Estratégia: Como você avalia a prática
da governança corporativa nas empresas brasileiras (ou
sediadas no Brasil)?
Nilton Pavin: A história
da governança corporativa no Brasil é recente -
tem pouco mais de 20 anos. Ela foi fundamental para o País,
na década de 1980, para a retomada do crescimento econômico
em um momento em que a adoção das regras de transparência
permitia uma garantia maior para as empresas nacionais na hora
de captar investimentos externos. Ainda hoje, muitos gestores
de empresas nacionais - principalmente as familiares - resistem
em romper com o padrão administrativo adotado pelas empresas
desde a década de 1930, quando o Estado exercia forte influência
na relação industrial nacional. É importante
ressaltar que as empresas que adotam as práticas da governança
corporativa e entram para o Novo Mercado proporcionam maior segurança
aos investidores, principalmente às pessoas físicas
e aos grupos minoritários.
Comunicação &
Estratégia: Quais são os principais desafios
para a implementação de uma governança corporativa
na plena acepção do terma? Quais as principais resistências
ou barreiras?
Nilton Pavin: O grande desafio
para uma empresa implantar as boas práticas da governança
corporativa é mudar a mentalidade de seus administradores.
Como citei na resposta anterior, as empresas nacionais exerciam
uma administração centralizadora fortemente influenciada
pela tutela do Estado - principalmente as familiares, que somam
mais de 70% das que estão em atividade no País.
Outra barreira a ser vencida pelos atuais gestores é admitirem
que hoje existem outros parâmetros (sociais, culturais,
ambientais e até administrativos) impostos pela sociedade
que determinam as vantagens competitivas de uma companhia. Finalmente
eu destaco a questão da transparência das informações.
A comunicação corporativa evoluiu, surgiram novos
canais de informação, mas as empresas ainda resistem
em adotar a total transparência na divulgação
das notícias referentes à organização.
Usam como desculpa, principalmente, a concorrência, que
não pode ter acesso às informações
consideradas "privilegiadas".
Comunicação &
Estratégia: As empresas brasileiras se comunicam competentemente
com os investidores/acionistas?
Nilton Pavin: Os próprios
profissionais de RI (Relação com Investidor) das
empresas que pertencem ao Novo Mercado admitem que a comunicação
com os acionistas precisa ser revista. Na realidade, nenhuma companhia
se preparou de maneira adequada para se comunicar com os "novos
investidores", ou seja, as pessoas físicas ou os pequenos
grupos de acionistas. São dois os motivos: primeiro é
que deve haver uma integração entre os departamentos
de comunicação e de RI das empresas. E, em um segundo
momento, os profissionais de comunicação e de RI
devem analisar os canais de comunicação que a empresa
dispõe e saber utilizar a linguagem adequada. Atualmente
as empresas se limitam a usar apenas os canais que a CVM - Comissão
de Valores Mobiliários - considera obrigatórios.
Comunicação &
Estratégia: Como conciliar os atributos de ética
e transparência com os interesses das organizações
(questão do sigilo, da concorrência etc)?
Nilton Pavin: Qualquer empresa
ou organização que pretenda ter excelência
em governança corporativa deve ter excelência em
comunicação. Ou seja, todas as mensagens emitidas
pelos gestores de comunicação devem estar alicerçadas
na ética, na transparência e na prestação
de contas, que formam a base das boas prática da governança
corporativa. No momento em que as empresas se conscientizarem
de que seu compromisso é com a "sociedade em geral",
elas eliminarão o "filtro" que existe hoje em
todo o processo de comunicação. Elas não
mais usarão as desculpas de "quebra de sigilo"
e de "concorrência".
Comunicação &
Estratégia: Como a comunicação empresarial
pode contribuir para uma excelente governança corporativa?
Nilton Pavin: A comunicação
empresarial tem papel fundamental na governança corporativa
no momento em que ela passa a ser a voz dos colaboradores, dos
acionistas e demais públicos-alvos e não ser apenas
a voz do CEO ou do presidente.
Comunicação &
Estratégia: Como a Governança Corporativa contempla
a gestão da comuñicação interna das
empresas?
Nilton Pavin: Não
há uma regra específica dentro das práticas
da governança corporativa com relação à
comunicação corporativa, apenas para a relação
com os investidores. A lei Sarbane Oxley, que adota regras de
transparência, equidade e prestação de contas
mais exigentes que as aplicadas no Novo Mercado, "sugere"
que as empresas criem "comitês de comunicação"
para adequar o discurso com os públicos-alvos. Essa prática
ainda não foi incorporada pelas empresas brasileiras que
pertencem ao Novo Mercado.
Comunicação &
Estratégia: Há exemplos brasileiros de boa comunicação
associada ao processo ou prática de Governança Corporativa?
Nilton Pavin: Teoricamente
as 15 empresas que compõem o Novo Mercado devem encabeçar
a lista das empresas com as melhores práticas de governança
e de comunicação.
Comunicação &
Estratégia: Existe já algum material ( livros,
artigos etc)sobre Comunicação e Governança
Corporativa em Português ou em outra língua que pode
indicar para os leitores. Que textos ou fontes, em geral, são
básicos para quem quiser aprender um pouco mais sobre o
assunto (mesmo que seja só para Governança Corporativa,
já que para Comuñicação e Governança
Corporativa pode ser difícil mesmo).
Nilton Pavin: Eu recomendo
as seguintes leituras:
Revistas:
Capital Aberto e Revista Relações
com Investidores.
Jornal:
a Gazeta Mercantil tem uma coluna
diária sobre governança corporativa.
Livros em português:
STEINBERG, Herbet. A dimensão
humana da governança corporativa: as pessoas criam as melhores
e as priores práticas. 2. ed. São Paulo: Gente,
2003.
ANDRADE, Adriana; ROSSETTI, José
Paschoal. Governança corporativa: fundamentos, desenvolvimento
e tendências. São Paulo: Atlas, 2004.
Uma década de governança:
história do IBGC, marcos da governança e lições
da experiência. São Paulo: Saint Paul: Saraiva, 2006
Sites:
www.fdc.org.br - Fundação
Dom Cabral
www.ibgc.org.br - Instituto Brasileiro
de Governança Corporativa
www.bovespa.com.br
- Bolsa de Valores de São Paulo
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