Volume 2
Número 3

20 de dezembro de 2005
 
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Nilton Pavin é tem 44 anos e 22 de profissão. É jornalista formado pela Metodista com pós-graduação em Planejamento Estratégico em Comunicação, também pela Metodista. Nos anos 1980, trabalhou na comunicação da Pirellli, foi editor de várias revistas, como Imprensa, Náutica e colaborou para importantes revistas e jornais do País. Atualmente é coordenador de comunicação da RP1 e trabalha com as seguintes empresas: Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), Submarino e Energias do Brasil. Tem dois livros publicados: Imagens da Paz e Imagens Proibidas.

Comunicação & Estratégia: Defina Governança Corporativa e Novo Mercado (puxa, não precisa fazer um tratado, mas apenas explicite os termos ou conceitos para os que ainda não se acostumaram com eles).

Nilton Pavin: Governança Corporativa é o conjunto de regras societárias adotadas por uma companhia para melhorar a relação entre acionistas, diretoria, conselho de administração e gestores. O método de administração - baseado na governança corporativa - de qualquer companhia deve estar alicerçado em uma postura transparente, justa e responsável. Hoje, definitivamente, a transparência nas ações, a equidade, a prestação de contas, o cumprimento das leis e a ética são fundamentais para garantir o fluxo de informações entre todos os públicos-alvos.

Comunicação & Estratégia: Qual a importância da Governança Corporativa e que vantagens as empresas que a praticam usufruem direta ou indiretamente?

Nilton Pavin: O Novo Mercado é um segmento dentro da Bovespa que adota regras de listagens diferenciadas. Participam desse mercado apenas as empresas que se comprometem não só com a adoção das rígidas práticas da governança corporativa mas, sobretudo, com a transparência de suas ações em relação ao que a legislação exige.

Comunicação & Estratégia: Como você avalia a prática da governança corporativa nas empresas brasileiras (ou sediadas no Brasil)?

Nilton Pavin: A história da governança corporativa no Brasil é recente - tem pouco mais de 20 anos. Ela foi fundamental para o País, na década de 1980, para a retomada do crescimento econômico em um momento em que a adoção das regras de transparência permitia uma garantia maior para as empresas nacionais na hora de captar investimentos externos. Ainda hoje, muitos gestores de empresas nacionais - principalmente as familiares - resistem em romper com o padrão administrativo adotado pelas empresas desde a década de 1930, quando o Estado exercia forte influência na relação industrial nacional. É importante ressaltar que as empresas que adotam as práticas da governança corporativa e entram para o Novo Mercado proporcionam maior segurança aos investidores, principalmente às pessoas físicas e aos grupos minoritários.

Comunicação & Estratégia: Quais são os principais desafios para a implementação de uma governança corporativa na plena acepção do terma? Quais as principais resistências ou barreiras?

Nilton Pavin: O grande desafio para uma empresa implantar as boas práticas da governança corporativa é mudar a mentalidade de seus administradores. Como citei na resposta anterior, as empresas nacionais exerciam uma administração centralizadora fortemente influenciada pela tutela do Estado - principalmente as familiares, que somam mais de 70% das que estão em atividade no País. Outra barreira a ser vencida pelos atuais gestores é admitirem que hoje existem outros parâmetros (sociais, culturais, ambientais e até administrativos) impostos pela sociedade que determinam as vantagens competitivas de uma companhia. Finalmente eu destaco a questão da transparência das informações. A comunicação corporativa evoluiu, surgiram novos canais de informação, mas as empresas ainda resistem em adotar a total transparência na divulgação das notícias referentes à organização. Usam como desculpa, principalmente, a concorrência, que não pode ter acesso às informações consideradas "privilegiadas".

Comunicação & Estratégia: As empresas brasileiras se comunicam competentemente com os investidores/acionistas?

Nilton Pavin: Os próprios profissionais de RI (Relação com Investidor) das empresas que pertencem ao Novo Mercado admitem que a comunicação com os acionistas precisa ser revista. Na realidade, nenhuma companhia se preparou de maneira adequada para se comunicar com os "novos investidores", ou seja, as pessoas físicas ou os pequenos grupos de acionistas. São dois os motivos: primeiro é que deve haver uma integração entre os departamentos de comunicação e de RI das empresas. E, em um segundo momento, os profissionais de comunicação e de RI devem analisar os canais de comunicação que a empresa dispõe e saber utilizar a linguagem adequada. Atualmente as empresas se limitam a usar apenas os canais que a CVM - Comissão de Valores Mobiliários - considera obrigatórios.

Comunicação & Estratégia: Como conciliar os atributos de ética e transparência com os interesses das organizações (questão do sigilo, da concorrência etc)?

Nilton Pavin: Qualquer empresa ou organização que pretenda ter excelência em governança corporativa deve ter excelência em comunicação. Ou seja, todas as mensagens emitidas pelos gestores de comunicação devem estar alicerçadas na ética, na transparência e na prestação de contas, que formam a base das boas prática da governança corporativa. No momento em que as empresas se conscientizarem de que seu compromisso é com a "sociedade em geral", elas eliminarão o "filtro" que existe hoje em todo o processo de comunicação. Elas não mais usarão as desculpas de "quebra de sigilo" e de "concorrência".

Comunicação & Estratégia: Como a comunicação empresarial pode contribuir para uma excelente governança corporativa?

Nilton Pavin: A comunicação empresarial tem papel fundamental na governança corporativa no momento em que ela passa a ser a voz dos colaboradores, dos acionistas e demais públicos-alvos e não ser apenas a voz do CEO ou do presidente.

Comunicação & Estratégia: Como a Governança Corporativa contempla a gestão da comuñicação interna das empresas?

Nilton Pavin: Não há uma regra específica dentro das práticas da governança corporativa com relação à comunicação corporativa, apenas para a relação com os investidores. A lei Sarbane Oxley, que adota regras de transparência, equidade e prestação de contas mais exigentes que as aplicadas no Novo Mercado, "sugere" que as empresas criem "comitês de comunicação" para adequar o discurso com os públicos-alvos. Essa prática ainda não foi incorporada pelas empresas brasileiras que pertencem ao Novo Mercado.

Comunicação & Estratégia: Há exemplos brasileiros de boa comunicação associada ao processo ou prática de Governança Corporativa?

Nilton Pavin: Teoricamente as 15 empresas que compõem o Novo Mercado devem encabeçar a lista das empresas com as melhores práticas de governança e de comunicação.

Comunicação & Estratégia: Existe já algum material ( livros, artigos etc)sobre Comunicação e Governança Corporativa em Português ou em outra língua que pode indicar para os leitores. Que textos ou fontes, em geral, são básicos para quem quiser aprender um pouco mais sobre o assunto (mesmo que seja só para Governança Corporativa, já que para Comuñicação e Governança Corporativa pode ser difícil mesmo).

Nilton Pavin: Eu recomendo as seguintes leituras:

Revistas:

Capital Aberto e Revista Relações com Investidores.

Jornal:

a Gazeta Mercantil tem uma coluna diária sobre governança corporativa.

Livros em português:

STEINBERG, Herbet. A dimensão humana da governança corporativa: as pessoas criam as melhores e as priores práticas. 2. ed. São Paulo: Gente, 2003.

ANDRADE, Adriana; ROSSETTI, José Paschoal. Governança corporativa: fundamentos, desenvolvimento e tendências. São Paulo: Atlas, 2004.

Uma década de governança: história do IBGC, marcos da governança e lições da experiência. São Paulo: Saint Paul: Saraiva, 2006

Sites:

www.fdc.org.br - Fundação Dom Cabral

www.ibgc.org.br - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

www.bovespa.com.br - Bolsa de Valores de São Paulo

 

 
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