Pesquisas temas

:: Tudo pelo social. As empresas nas colunas sociais

 

Objetivos

          Conhecer a estrutura básica de divulgação de colunas sociais de prestígio, publicadas em 4 jornais brasileiros.

          Identificar a distribuição temática das colunas analisadas, com atenção especial aos seus focos de interesse.

          Avaliar a presença e imagem das empresas nas colunas sociais.

Hipóteses principais

          As colunas sociais não se restringem ao noticiário sobre pessoas que frequentam as altas rodas, mas contemplam os chamados olimpianos em geral, representados sobretudo por artistas da TV e esportistas de prestígio.

          Há diferenças importantes entre os colunistas dos jornais cariocas e os colunistas dos jornais paulistas, observando-se, particularmente, maior ênfase a fatos e pessoas do universo político e econômico nas colunas paulistas.

          O Governo e a classe política são amplamente favorecidos pelas colunas, não se observando, sob este aspecto, qualquer diferença significativa entre os colunistas paulistas e cariocas.

          Há uma cobertura importante do universo da mídia e da propaganda, com referências a veículos e agências.

          As empresas comparecem com frequência nas colunas, especialmente as que se destacam no cenário brasileiro, as chamadas empresas-líderes.
A imagem das empresas nas colunas é majoritariamente positiva, quase não se registrando notas desfavoráveis à comunidade empresarial.

Colunas analisadas

Joyce Pascowitch – Folha de S. Paulo
Cesar Giobbi – O Estado de S. Paulo
Ricardo Boechat – O Globo
Danuza – Jornal do Brasil

Período de análise

1º a 15 de março de 1999

Estrutura básica das colunas

Joyce Pascowith
Formato:
- Segunda a sábado: 39,5 cm x 6 colunas;
- Domingo: 34,0 xm x 6 colunas
Estrutura de produção: Trabalha explicitamente com duas colaboradoras: Simone Galib e Camila Viegas.
Contato por e-mail: Sim
Localização: A coluna se insere no Caderno Ilustrada (de Segunda a Sábado), sempre à página 2 e no Caderno Mais (Domingo)
Número médio de notas por dia: 8,3. Aos domingos, traz 4 notas em média.
Particularidades: Incorpora uma seção denominada Entrelinhas, constituída por pequenas notas (média diária de 7,7). Aos domingos, é substituída pela seção Loucuras de Verão, com uma média de 10 notas e pequenas ilustrações. Aos domingos, a coluna inclui uma nota maior, com uma entrevista, em forma de "ping-pong", denominada Pronta Entrega, realizada junto a um profissional (médico, artista plástica no período analisado).
Fotos/ilustrações: Tem uma média diária de 6,2 fotos e, aos domingos, traz uma grande foto, aberta em 4 colunas-padrão do jornal.

Persona – Cesar Giobbi
Formato: 52,0 cm x 6 colunas.
Estrutura de produção: Não há menção explícita a colaboradores.
Contato por e-mail: Sim
Localização: Caderno 2, geralmente à página D3.
Número médio de notas por dia: 8,2.
Particularidades: Incorpora uma seção denominada Sopa de letrinhas (com 13 notas em média) ou Miúdas (com 14 notas em média). Em 75% dos dias analisados, apareceu o Pensamento do Dia. Algumas vezes, há anúncios na página da coluna.
Fotos e ilustrações: Tem uma média diária de 7,5 fotos.

Ricardo Boechat
Formato: Duas páginas, a primeira com 22,5 cm x 6 col e a Segunda com 22,5 cm x 2 col.
Estrutura de produção: Não há menção explícita a colaboradores.
Contato por e-mail: Não
Localização: Caderno Rio, páginas 10, 11, 12 ou 13.
Número médio de notas por dia: 16,2
Particularidades: Incorpora uma seção denominada Zona Franca (com 3 ou 4 pequenas notas).
Fotos e ilustrações: Tem uma média de Segunda a Sábado de 6 fotos e uma ilustração. Aos domingos, 3 fotos em média, uma delas bastante expressiva e uma ilustração.

Danuza
Formato: 26,0 cm x col
Estrutura de produção: Tem explicitamente duas colaboradoras: Angela Teresa e Isabel De Luca
Contato por e-mail: Sim
Localização: Caderno B, página 3
Número médio de notas por dia: 10,9 notas de Segunda a Sábado e de 8 a 10 notas aos Domingos
Particularidades: Incorpora às vezes uma seção denominada Calcadão (com 3 ou 4 notinhas) e, aos Domingos, a seção Café com trufas: 6 notas
Fotos e ilustrações: Tem uma média de Segunda a Sábado de 2 ou 3 fotos; aos domingos, sempre 2. Às vezes, inclui uma ilustração, que geralmente acompanha uma nota, com o título Rio, meu amor.

Distribuição temática das colunas
Número de notas por tema
Total das colunas

Tema Número de notas
Política 75
Economia 21
Sociedade 27
Artistas (TV, Cinema, música etc) 88
Outros artistas 27
Outras pessoas 63
Esporte/Esportistas 14
Propaganda/Marketing 09
Mídia/Veículos 18
Cidade 19
Eventos 21
Literatura 08
Teatro 04
Moda 04
Empresas 59
Elogio governo/autoridades 16
Crítica governo/autoridades 39
Elogio classe política/políticos 39


Distribuição temática das colunas
Número de notas por tema
Colunas individualmente

TemaJoyce PascowitchCesar GiobbiDanuzaRicardo Boechat
Política20091630
Economia07010112
Sociedade0304155
Artistas (TV, cinema, música etc)16142038
Outros artistas0614052
Outras pessoas1206066
Esporte/Esportistas0003053
Propaganda/Marketing04040100
Mídia/Veículos0408015
Cidade0109063
Eventos0305076
Literatura0100025
Teatro0101002
Moda0103000
Empresas15141119
Elogio governo/autoridades0702077
Crítica governo/autoridades020914
14
Elogio classe política/políticos140709
9

Presença das empresas nas colunas
Número de notas

Coluna Número de notas % do Total de notas
Joyce Pascowitch 15 12,82
Cesar Giobbi 15 12,17
Danuza 11 08,73
Ricardo Boechat 26 15,66

          Apenas 4 empresas foram citadas nas colunas mais de uma vez (2): Bancos Matrix e BBA, Du Loren e Rede Ferroviária Federal. Na maioria esmagadora dos casos, as empresas citadas não são de grande porte e, sobretudo, atuam nas áreas de comércio e serviços (restaurantes, lojas, operadoras de turismo etc)

Número de notas negativas sobre as empresas
Por coluna e total

Coluna Nº de notas negativas % do total de notas
Joyce Pascowitch 2 13.33
Cesar Giobbi 1 06,66
Danuza 1 09,09
Ricardo Boechat 6 23,07


Conclusões principais

          As notas relativas aos artistas (TV, cinema, música) e aos esportistas têm uma grande importância na distribuição temática das colunas, representando 19,46% do total de notas publicadas. Há uma diferença, no entanto, quando se consideram, isoladamente, os colunistas paulistas e cariocas. Os colunistas do Rio de Janeiro dedicam maior atenção ao universo dos artistas e esportistas (22,60% das notas publicadas) do que os colunistas de São Paulo (14,22% das notas publicadas).

          A presença de pessoas identificadas com altas rodas ("society") é pouco representativa para o conjunto das colunas (apenas 5,5% das notas publicadas), mas há um relativo destaque a profissionais de diversas áreas (médicos, engenheiros, arquitetos, advogados etc), enquanto referência nas suas áreas de atuação (12,02% das notas publicadas).

          A cobertura do mundo político e econômico, sobretudo o político, é expressiva nas colunas, respondendo por 32,25% do total das notas publicadas, o que evidencia uma transição da temática primordial das colunas sociais. Há, a esse respeito, uma diferença entre os vários colunistas (as notas referentes a política/políticos e economia/empresas superam os 50% do total das notas publicadas para Joyce Pascowitch e Ricardo Boechat, mas são mais discretas para Cesar Giobbi e sobretudo Danuza.

          O universo da mídia/propaganda não ocupa, como se imaginava a priori, muita importância, representando apenas 5,5% das notas publicadas. Esta importância é ainda menor para os colunistas cariocas (2,39% das notas publicadas), talvez porque as maiores agências de propaganda estejam sediadas na capital paulista.

          Ao contrário do que se supunha, o Governo e as autoridades não são favorecidos pelas colunas sociais. Os elogios representam apenas 3,05% das notas publicadas, enquanto as críticas ascendem a 7,44% do total das notas. Em contraposição, políticos em particular demonstram sua influência nas colunas, com um porcentual importante de notas elogiosas (7,44% do total das notas). Na maioria das vezes, no entanto, as críticas são endereçadas aos órgãos do Governo, poupando-se a figura do presidente e de seus ministros.

          As empresas têm uma presença significativa nas colunas (11,25% do total das notas publicadas), mas elas também são contempladas com notas desfavoráveis. Para um dos colunistas (Ricardo Boechat), quase ¼ das notas sobre empresas tinha um tom pejorativo.

Observações adicionais

          Apesar da mudança de perfil das colunas, permanece o espaço para a fofoca e a intriga e para a invasão abusiva da privacidade dos cidadãos.

Exemplo

A outra
          "Na noite de Segunda-feira, a atriz Alessandra Negrini entrou no Florentino acompanhada de uma es-tre-lo-na do futebol carioca. Os dois pediram uma mesa mais privé, digamos assim, mas como a única do restaurante era perto da porta do banheiro, preferiram ir embora. O nome dele a coluna não diz para preservar a sagrada instituição do casamento." (Danuza, 3/03/99)

          Alguns colunistas demontram atenção a alguns temas específicos: este é o caso da problemática ambiental para Danuza; das artes/artistas plásticos por Cesar Giobbi; da área da Saúde/Medicina por Ricardo Boechat e da cordialidade com políticos e suas mulheres por Joyce Pascowitch. Alguns ministros – José Serra e Rafael Greca – foram seguidamente festejados, respectivamente por Danuza e Cesar Giobbi, o que pode indicar um relacionamento pessoal mais estreito ou uma grande simpatia.

          O discurso dos colunistas sociais continua excessivamente adjetivado e o personalismo é exacerbado, refletindo interesses, gostos ou compromissos pessoais.
Notou-se, particularmente, um deslize (ético, jornalístico?) do colunista Ricardo Boechat, "queimando" suas fontes em duas notas seguidas sobre a liberação de pedidos de aposentadoria pelo INSS. Senão vejamos:

Século XXI
          "Desde a reforma da Previdência aprovada em dezembro pelo Congresso, INSS não concluiu um só pedido de aposentadoria. A desculpa é que a Dataprev ainda está alimentando seus computadores com a nova legislação. Até terminar, metade dos velhinhos morrerá de fome." (Ricardo Boechat, 02/03/99)

Os números
          "Desde a aprovação da Reforma da Previdência, em dezembro, o INSS aprovou 341 mil aposentadorias e benefícios. Os velhinhos que denunciaram a lentidão do órgão, neste caso, pisaram na bola." (Ricardo Boechat, 03/03/99)
          Fica a nítida impressão de que, após divulgar a informação, sem checar os dados, o colunista recebeu um desmentido oficial e preferiu colocar a culpa nos velhinhos. A nota do dia 02/03 não explicitava que a informação havia sido dada por um grupo de velhinhos, tendo o colunista explicitamente assumido a denúncia. Este fato indica o limite pouco nítido entre um boato, fofoca ou intriga da informação verídica no noticiário das colunas, com prejuízo evidente da qualidade da informação.

Importante: A pesquisa restringiu-se a um determinado período e, no caso das investigações no terreno da comunicação social, é sempre necessário repetí-la outras vezes, antes de aceitar os dados como tendências irreversíveis. O mundo do jornalismo particularmente é bastante mutável e, num espaço (as colunas sociais), em que prevale o personalismo, podem, mesmo em curto espaço de tempo, ocorrer mudanças significativas.

 
 
 
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