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Relações Públicas

:: Relações Públicas: conceitos e preconceitos

Wilson da Costa Bueno*

      A falta de precisão da mídia ao manipular conceitos importantes tem se tornado cada vez mais freqüente e, com certeza, deriva de dois motivos básicos: desconhecimento dos que deles lançam mão ou absoluta má fé. Na verdade, seria lícito esperar que comunicadores, em particular jornalistas (que são infelizmente grandes infratores conceituais), estejam atualizados, privilegiem a qualidade da informação que veiculam e não contemplem conceitos como expressões vazias, sem conteúdo. Mas é isso que acontece.
      Muitos profissionais de imprensa e veículos têm conseguido jogar na cesta do lixo conceitos de indiscutível relevância como responsabilidade social, cidadania, sustentabilidade, porque estão reféns ou de sua própria ignorância ou de releases e entrevistas oriundas de fontes empresariais oportunistas.  Desta forma, acreditam e fazem circular informações sobre a responsabilidade social da indústria tabagista (quem mata milhões em todo o mundo não merece esta boa vontade jamais), exaltam o apoio das casas de bingos ao esporte brasileiro (vamos acabar com esta ilegalidade logo?) e imaginam que a indústria agroquímica e de mineração possam ser sustentáveis (agrotóxico é veneno e mata mesmo e queremos mais respeito com os indígenas).
      Ao mesmo tempo, fecham com as agências de propaganda e empresários da comunicação que defendem a liberdade de expressão para a indústria de bebidas, de armas ou para a indústria de alimentos que seduz e torna nossas crianças obesas, quando estão mirando apenas os seus lucros. Não têm qualquer perspectiva crítica em relação às montadoras (um recall por semana) e à indústria da saúde, e continuam proclamando aos quatro ventos os milagres de seus produtos, muitos deles fatais para grupos de risco. São até capazes de chamar plantação de eucaliptos de floresta porque sua visão de biodiversidade é mais estreita do buraco de agulha.
      Incomoda da mesma forma a visão preconceituosa com que, repetidamente, a mídia tem se referido à atividade de Relações Públicas, considerada muitas vezes como vilã da sociedade, considerando comportamentos e posturas individuais como expressão de toda uma categoria. Evidentemente, existem desvios no exercício da profissão, mas eles são comuns (e como) em outras atividades também. Militares que entregam jovens para milícias rivais, submetendo-as à tortura e à morte; governantes e políticos corruptos, embora eleitos com milhões de votos; empresários que exploram o trabalho escravo e publicitários que fazem o jogo dos grandes interesses comerciais existem aos montes por esse Brasilzão afora.  Como são comuns os jornalistas que vivem atrás de um jabá e veículos que estabelecem relações promíscuas com o poder político e econômico.
      A atividade de Relações Públicas é essencial para uma sociedade democrática porque as organizações dependem, cada vez mais, de profissionais e projetos que estabeleçam uma relação saudável e harmônica com os seus públicos de interesse. Uma sociedade moderna, justa, democrática não pode abrir deste diálogo permanente promovido por verdadeiros Relações Públicas; pelo contrário, precisa dispor de ações, planos, estratégias e políticas para a inserção das organizações na sociedade, e a atividade de Relações Públicas, quando autêntica (a ilegítima não merece essa denominação) trabalha sempre e de maneira competente neste sentido.
      É triste perceber nos anúncios classificados dos jornais, nas falas de empresários mal informados, nas telenovelas e, sobretudo nos comentários preconceituosos dos jornalistas uma perspectiva equivocada do trabalho dos Relações Públicas. Há quem os confunda com meros organizadores de festinhas e não percebe a importância dos eventos corporativos para a consolidação das marcas; há quem os associe a posturas não éticas ou de submissão a chefias ou organizações (esta mentalidade capacho existe em todo o canto e tem a ver com fraquezas individuais e não com o "ethos" de determinada categoria) e não percebe o trabalho fundamental que realizam junto às comunidades e a populações menos favorecidas.
      Não há dúvida de que, em alguns casos, aqueles que se denominam Relações Públicas (e agridem a atividade) podem estar contribuindo para esta visão distorcida, ao encamparem ações ou projetos que penalizam a sociedade ou afrontam a ética e a transparência. Há, todos sabemos disso, agências (que se dizem de RP) criando blogs e perfis no Orkut para enganar jornalistas e a sociedade, tentando demonizar movimentos sociais, pregando o "bom mocismo" dos fabricantes do tabaco e legitimando predadores ambientais contumazes.  Há empresas (agências/assessorias) e profissionais a serviço de interesses inconfessáveis que praticam a atividade suja de "limpeza de imagem", buscando salvar a pele de organizações sem escrúpulos. Mas, convenhamos, isso não é Relações Públicas, nunca foi e nunca será.
      Não se pode confundir ações e posturas patológicas em comunicação com a atividade de Relações Públicas, que se apóia em valores defendidos pela sociedade e que encontra respaldo numa formação universitária de excelente nível em muitas universidades brasileiras (há cursos ruins, mas eles proliferam em todas as áreas, sobretudo depois da  explosão irresponsável do ensino mercantilista em nosso país).
      Certamente, o preconceito de veículos, de jornalistas, da mídia em geral com os profissionais e a própria atividade de Relações Públicas tem a ver também com o ranço corporativista que ainda vigora no campo da comunicação (briga de foice, sem sentido, por um espaço que gradativamente vai sendo ocupado por profissionais de outras áreas) e que apenas confirma a tese de que a comunicação integrada não passa de uma imensa hipocrisia. Não se pode integrar o que está sendo desconstruído a todo momento por disputas corporativistas.
      Está na hora de desarmar os espíritos, qualificar os conceitos, repudiar os preconceitos e, em especial, de assumir uma visão mais comprometida com a comunicação cidadã. Nela, não há espaços para interesses mesquinhos, manipulações egoístas ou idiossincrasias profissionais.
       Os jornalistas e Relações Públicas precisam definitivamente "juntar os trapos". A comunicação verdadeiramente estratégica, integrada, passa obrigatoriamente por este casamento promissor. Enquanto persistir este divórcio, eivado de preconceitos e incompreensões, pouco avançaremos. Os espaços profissionais em comunicação serão maiores e mais qualificados, se caminharmos juntos. Como jornalista, um grande abraço aos amigos Relações Públicas. Nossas eternas homenagens a Vera Giangrande, que sempre defendeu esta união profícua e que se entristecia (e se indignava) com a nossa falta de solidariedade.

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*Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP e professor de Jornalismo da ECA/USP. Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa.

 
 
 
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