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Marketing educacional

:: A parceria como incremento no Marketing Educacional

Gino Giacomini Filho*

      Resumo

      As Instituições de Ensino Superior (IES) Brasileiras estão enfrentando uma série de dificuldades, dentre elas: forte evasão, inadimplência e barreiras para disponibilizar serviços educacionais de Qualidade em todas as áreas desejáveis. Assim, muitas IES têm recorrido a diferentes estratégias do marketing educacional para implementar ações que visem diversificar recursos e sustentar um quadro de rentabilidade, que possibilite enfrentar um mercado progressivamente mais exigente e com uma competitividade cada vez maior. A parceria sinaliza como opção estratégica nesse contexto mercadológico. Mas, talvez, o maior desafio, seja implementá-la entre as IES, envolvendo estruturas e áreas ainda restritas, como a parceria com acervos de biblioteca, corpo docente e laboratórios.

      Abstract

      Brazilians universities (IES) are passing for many economics and social difficulties, that reduce its institutional qualities. For this reason, many IES are increasing yours marketing strategies because de market is more competitive and demanding. The partnership is one model to be increased, mainly IES to IES involving library, teachers and laboratories, elements that nowadays are limited by social and official Brazilians sectors.
      Elementos sócio-econômicos e mercadológicos como competitividade, globalização, dependência tecnológica e exigências da Sociedade da Informação, têm interferido nas empresas e instituições, em que a redução de custos e a eficácia operacional muitas vezes apontam para a compatibilização de atividades entre as organizações.
      Num grau mais específico, tal harmonização tem levado à união, de fato, de estruturas físicas, humanas e valorativas, formando um único comando e, portanto, instituições com mais solidez para satisfazer mercados e enfrentar a crescente concorrência, inclusive de âmbito internacional. Essa harmonização pode ser expressa na forma de parcerias e até fusões, algo que se tornou opção realista para os momentos atuais do marketing brasileiro.
      Se, de um lado, a partilha de estruturas corporativas sinaliza para uma perda sobre o patrimônio bruto, de outro traz o combustível necessário para sobrevivência ou manutenção de um status competitivo.
      No cenário institucional brasileiro, tem se tornado comum a formação de parcerias como forma de manter e conquistar mercados. Assistimos à união de forças no setor bancário, supermercadista, aéreo, publicitário, alimentar, dentre outros, que não hesitaram em empreender acordos associativos para consolidar e ampliar interesses comerciais e sociais. São empresas que não desprezaram a eficácia dos concorrentes como forma de gerar oportunidades de marketing, ao invés de apenas combatê-los, ignorá-los ou isolá-los.
      São instituições que descobriram não poder atuar em todas as áreas "desejáveis"; ou então, que o esforço de marketing para conquistar determinada fatia do mercado seria muito maior do que simplesmente associar-se a um concorrente ou intermediário. Em prol de minimizar custos, diminuir desperdícios e rentabilizar recursos, a parceria pode redundar em benefícios na relação custos/qualidade, algo decisivo em setores e mercados competitivos, como o que se apresenta para o setor educacional particular.
      Não é por acaso que algumas assessorias empresariais têm implementado em suas estruturas departamento de fusões e aquisições, destinado a olhar as oportunidades no mercado.
      Porém, as instituições de ensino superior (IES) usufruem timidamente desse recurso mercadológico, talvez, receosas de possíveis retaliações ou reprovação pelas instâncias oficiais que reconhecem e aprovam cursos superiores. O paradigma no ensino superior é o de que uma instituição deve oferecer uma estrutura completa, desde biblioteca até corpo docente, algo que, para muitos outros setores, comprometeria a própria sobrevivência.
      Portanto, o objetivo maior desse artigo á apontar o estabelecimento de parceria como alternativa para o desenvolvimento do marketing educacional para instituições de ensino superior, notadamente as parcerias entre IES.
      Chegou-se a um ponto que as exigências dos diferentes públicos de uma IES não podem ser atendidas se a escola insistir em atuar nas três áreas clássicas: Ensino, Extensão e Pesquisa. Cada instituição tem sua vocação e estrutura pedagógica direcionada para determinados setores, sendo demagógico insistir na excelência em todas as áreas. A parceria pode responder positivamente a essa tríplice missão, notadamente quando se refere às universidades (segundo o conceito da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação).

       Conceitos

      Não há consenso sobre a origem da formação de parcerias e fusões corporativas. A Companhia da Índia do Leste, formada em 1604, teria sido uma das primeiras "holding", em que conciliou interesses de diversos empresários ingleses.
      No Brasil, o sistema de "holding" caracterizou-se mais pelo ingresso de multinacionais, talvez pelo pequeno número de grupos econômicos nacionais expansionistas e à cultura da empresa familiar. O CADE (Conselho Administrativo de Desenvolvimento Econômico), criado em 1962, e inspirado nas leis antitrustes americanas, foi a primeira manifestação oficial brasileira no sentido de empreender um controle maior das atividades de conglomerados corporativos.
      Embora já nos anos oitenta o mercado mundial - Estados Unidos, Japão, Europa Ocidental, Sudeste Asiático -, vivenciasse a prática de fusões e parcerias num ritmo acelerado, só a partir da segunda metade dos anos noventa foi adotada efetivamente por grupos privados nacionais.
      Para Pietro (1999, p. 177-178), "Parceria" designa formas de sociedade que, sem formar uma nova pessoa jurídica, organizam-se para a consecução de determinados fins. Uma das formas de se manifestar formalmente a parceria é por meio de convênio: acordo de vontades com características próprias. No ato coletivo, as partes desejam o mesmo: realizar conjuntamente uma ou várias operações comuns: seus interesses, ainda se diferentes, caminham na mesma direção.
      Já o conceito de fusão possui um detalhamento técnico maior: "Ato de natureza corporativa ou social, por meio do qual duas ou mais sociedades, ante a dissolução de alguma ou de todas elas, confundem seus patrimônios e agrupam em uma só sociedade". Implica um processo societário (duas ou mais sociedades), absorção de umas por outra ou união entre elas para uma nova, transmissão global do patrimônio, incorporação dos acionistas, extinção das incorporadas. (BULGARELLI, 1998, p. 50-52).
      Rosmussen justifica as alianças empresariais com a questão do "the square one investment risk theory", em que a organização não estaria vinculada aos riscos de investimentos de estaca zero, pois a parceria levaria em conta certa experiência e know how dos pares em processos a serem dinamizados. "Nesta nova realidade da economia internacional, as estratégias e as táticas da aquisição, da fusão empresarial e do "joint venture" são ferramentas de impacto tipo "Blitz Krieg", onde uma empresa ou um grupo econômico pode penetrar em mercados em curtíssimo prazo sem necessidade de esperar a maturidade dos seus investimentos de estaca zero." (ROSMUSSEN, 1989, p. 14).
      Para Manes (1997, p.99): "Marketing Educacional é o processo de investigação das necessidades sociais, para desenvolver serviços educacionais com a intenção de satisfazê-las, de acordo com seu valor percebido, distribuídos em tempo e lugar, e eticamente promovidos para gerar bem-estar entre indivíduos e organizações". Assim, se uma escola não tiver meios para oferecer todos os serviços educacionais com alto grau de qualidade, não estaria satisfazendo seus alunos, podendo um sistema de parcerias alcançar níveis de satisfação superiores aos que uma instituição possa oferecer operando de forma isolada.
      Do ponto de vista estrutural do marketing educacional, uma empresa pode gerar oportunidades utilizando-se de várias táticas (KOTLER, 1994, p. 165). Porém uma das alternativas que o mercado competitivo atual tem se valido, é a de Crescimento Integrado. Nesta opção, a instituição traz para sua esfera de ação, fornecedores, Intermediários e/ou Concorrentes (SANDHUSEN, 2000, p. 32-33). No primeiro caso, pode, por exemplo, fazer acordos especiais com um fornecedor, passando então a garantir certo suprimento de bens e serviços. No segundo caso pode, por exemplo, firmar convênio com um distribuidor, podendo com isso ter exclusividade junto àquele canal. No terceiro caso, pode, por exemplo, fundir-se ou adquirir o controle de um concorrente, transferindo para suas mãos determinado mercado. Tem opção, também, de escolher por uma coexistência positiva: trocando informações sobre desenvolvimento tecnológico e até acordos operacionais em regiões de mútuo interesse.
      Portanto, ao estabelecer parcerias, uma IES estaria provocando para si oportunidades de marketing, tendo as seguintes escolhas: 1) estabelecer acordos com fornecedores de recursos humanos, serviços, produtos e equipamentos; 2) unir-se com IES concorrentes ou complementares, compartilhando estruturas, produção acadêmica, programas de oferta de cursos; 3) atrair intermediários para sua esfera de atuação, como agregar serviços de comunicação, transporte escolar, agenciamento e outros.
      De qualquer forma, a parceria é uma forma de criar circunstâncias que dependem em grande parte dos interesses da própria instituição. Esta decisão estratégica envolve riscos, como passar ao mercado a imagem de uma possível fragilidade financeira, ou a tentativa de transferir para terceiros responsabilidades institucionalizadas.
      A sociedade brasileira não parece, ainda, preparada para aceitar plenamente esse modelo para as IES, vendo tal política com restrições. Até corporações que atuam na área de consumo tiveram dificuldades para concretizar parcerias, como ocorreu com a Ambev (fusão da Antarctica com Brahma) e Colgate-Palmolive (aquisição da marca Kolynos). No campo educacional, o Brasil apresenta casos isolados nessa direção, mas sinalizadores de um novo tempo para o ensino superior.
      Essa alternativa - a cada dia - desponta como fórmula de sobrevivência mercadológica também para as IES, mas que devido aos paradigmas oficiais e sociais, deve ocorrer, no Brasil, informalmente ou no contexto de crises mais profundas no ensino superior. Isso porque, os organismos sociais aceitam acordos e parcerias restritos a determinadas áreas, mas decisões como compartilhamento de bibliotecas, corpo docente e laboratórios, têm sido sistematicamente condenadas para esse mercado.
      Embora os indicadores da área educacional sinalizem nessa direção há muito tempo, o marketing não tem obtido "sinal verde" para desenvolver modelos que façam das parcerias entre as IES, algo que agregue satisfação a todos os públicos envolvidos, inclusive, alunos, comunidade, empresários do setor, órgãos públicos e mercado de trabalho. A decisão de estabelecer parcerias não pode vir no rastro de soluções milagrosas de curto prazo, ensejando que os setores envolvidos e comprometidos com a qualidade da educação considerem a racionalização de investimentos e serviços das IES com seus próprios pares uma decisão também de interesse público.
      Países com sólida base educacional, como os Estados Unidos, avançam na compatibilização de estruturas. Segundo Castro (1998, p. 115): "A National Technological University, na verdade, é um consórcio de 48 universidades de primeira linha que se reuniram para oferecer cursos à distância. Cada membro do consórcio se especializa na oferta de cursos nas áreas em que tem experiência e reputação".
      Michael Simkins (2000) relata uma série de projetos implementados por meio de parcerias entre educadores de escolas de nível médio, universidades e empresas, resultando em grandes benefícios para os envolvidos. Projetos como o Challenge 2000 (Vale do Silício), programa "Chrome" (Old Dominion University) e Projeto Millennium (University of Texas-Austin) resultaram em treinamento, aprimoramento do sistema educacional médio nas regiões priorizadas, além de integração dos estudantes com as comunidades e empresas locais.
      Uma parceria que também pode ser destacada é a chamada "NextEd" ou "Global University Alliance", que está oferecendo cursos de educação à distância para países asiáticos a partir de esforços de nove universidades: Athabasca University (Canadá), Auckland University of Technology (Nova Zelândia), Chung Yuan Christian University (Taiwan), Hogeschool Brabant International Business School (Holanda), Rochester Institute of Technology (Estados Unidos), Univesity of Derby and Glamorgan (Grã Bretanha), Royal Melbourne Institute of Technology e University of South Australia (Austrália).
      Jorge Werthein, doutor em educação pela Universidade de Stanford e representante da Unesco no Brasil, afirma que um dos princípios que sua organização defende para a universidade do próximo milênio é "ser uma comunidade na qual a cooperação com a indústria e os serviços para o progresso econômico da região e do país seja ativamente apoiada (1998, p. 6).

       Parceria na IES brasileiras

      Num momento em que se discute inadimplência, a conseqüente redução de despesas e maximização de estrutura ou investimentos em Qualidade torna-se questão de vida ou morte para muitas IES.
      Iniciativas nesse sentido foram e têm sido empregadas, inclusive revestidas de um trabalho posterior. A Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, por exemplo, empreendeu parcerias com empresas varejistas e instituições bancárias para reformar suas dependências. Instituições financeiras como Itaú, Safra, BBA e BCN, além de empresas como Booz Allen & Hamilton Consultores, Souza Cruz, Mc Donalds e Klabin, estão entre as organizações que contribuem para o Fundo de Bolsas da FGV (D’AMBROSIO, 1998, p. 8).
      Recentemente foi criada a Universidade Virtual Brasileira, por um consórcio de nove instituições para oferecer 15 cursos de extensão em 2000 (LOCK, 2000, p. 15).
      Podem ser destacados também acordos estabelecidos entre universidades e empresas (vigentes em 2000): UFSC com a Embraco: investimento de US$ 500 mil para tecnologia de compressores; Ericsson e UFSC: US$ 300 mil para retificador de centrais telefônicas; USP e Nec/Pirelli: R$ 600 mil para sistema de gerenciamento; várias universidades e a Siemens: envolvendo 5 mil alunos, 300 professores e 85 laboratórios em Recife, Brasília, Goiânia, Campinas, São Paulo, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre (GOULART, 1999, p. 6). Esse caso exemplifica como a parceria envolvendo várias IES traz sinergia agregando qualidade tanto para a formação acadêmica como para diversos setores sociais.
      Outros casos podem ser relatados, como as parcerias entre as IES para sustentação do conteúdo programático de canais universitários, ou então o esforço cooperado de oito universidades em São Paulo, que se uniram para empreenderem um exame vestibular unificado (Univest), ou ainda a cooperação entre o Centro Educacional de Niterói e a Universidade Candido Mendes, do Rio de Janeiro, para a oferta em 1999, de cursos noturnos na área de Direito, Administração, Economia e Ciências Contábeis.
      Até o processo de fusão começa a despontar como alternativa mercadológica para as escolas, uma vez que a evasão e a competitividade no Brasil são realidades. Escolas como Oswald de Andrade e Caravelas, e Novo Esquema e Novo Ângulo, todas de São Paulo, partiram para a fusão. Só a CNA Consultoria intermediou três fusões na área educacional e está negociando no ano 2000 outras seis (GOIS, 2000, p. 1).
      Na verdade, se observar as realizações das IES, veremos que quase todas apresentam alguma forma de parceria, quer seja, por exemplo, com outras instituições para realização de intercâmbio de professores, ou então com fornecedores para equipar laboratórios.
      Pretendemos, porém, questionar alguns pontos: Em que medida as parcerias podem ser racionalmente inseridas nos objetivos e estruturas da IES? Que benefícios podem ser gerados e satisfazer os públicos de interesse, inclusive os parceiros? Como a parceria se comprometeria com a Qualidade na IES?
      Tais questões remetem ao fato de que, ao tempo que se faz necessário estabelecer parceria, é também necessário fazê-la profissionalmente.
      Toda parceria deve beneficiar ambos os lados. A convicção de que teremos vantagens numa associação deve vir acompanhada de ação interativa e vantagens para o parceiro. Até porque o retorno almejado é diferenciado, inclusive em termos de tempo. A perseguição por vantagens próprias pode inviabilizar no presente e no futuro resultados promissores. Nesse sentido, a IES deve disponibilizar estrutura e recursos profissionais para tal iniciativa, pois a outra parte também desejará obter dividendos.
      Esta colocação também remete ao fato de que a IES deve possuir solidez administrativa, educacional e mercadológica, fazendo da parceria uma extensão de sua Qualidade. Não se recomenda a parceria para cobrir deficiências, pois essa tática será percebida por alunos e comunidade como despreparo em cumprir sua missão. É importante, nesse ponto, enfatizar que tais deficiências dizem respeito a uma instituição com graves problemas administrativos, financeiros ou pedagógicos, em que a parceria poderia ser confundida como último recurso para disponibilizar serviços básicos. Diferente de "incompatibilidade" na oferta de determinados serviços, como veremos a seguir.
      A IES pode reconhecer a incompatibilidade em disponibilizar determinado recurso ou serviço, ou então que consiga apenas fazê-lo parcialmente face aos custos envolvidos ou intensidade de recursos humanos necessários. É o caso de setores não essenciais ao ensino ou que se afastam de sua vocação institucional, inclusive acarretando desvio de seus objetivos e metas. É também o caso de atividades onerosas, cujo custo-benefício para a IES pode ser compartilhado com outra IES sem que haja perda significativa da Qualidade percebida pelos públicos interno e externo, ou que as vantagens superam tais perdas.
      A parceria não pode ser feita para suprir áreas ou serviços básicos, como estruturas mínimas exigidas na legislação. Tal decisão deve estar respaldada em uma justificativa coerente, trazendo vantagens aos alunos e demais interessados. A fundamentação deve atender e convencer as entidades, como governo, entidades estudantis, associações de docentes e outras interessadas.
      As possibilidades de parceria são quase que infinitas, mas cumpre salientar as que podem ser feitas entre as IES. Não se quer com isso que o espaço próprio de cada escola seja alterado, até porque possuem missões, objetivos, públicos e interesses diferenciados. A intenção é estabelecer uma convivência benéfica e sinérgica, já que o atual mercado competitivo exige de cada IES reservas estratégicas para investirem em suas atividades-fim.
      A formação e a manutenção de acervos bibliográficos pode ser alvo de parcerias, em que alunos e professores tenham acesso e possam desfrutar integralmente de seus recursos. Assim como uma IES pode canalizar investimentos para ter excelência numa determinada área de conhecimento, outra pode tê-lo em área diferente. A parceria beneficiaria os alunos de ambas com acervo de altíssimo nível, ao invés de cada uma possuir um acervo apenas razoável de todas as áreas ali contempladas.
      Os laboratórios se constituem, normalmente, numa área onerosa e de grande expectativa dos alunos. A realidade tem mostrado que as estruturas laboratoriais existentes apresentam lacunas, ociosidade, além de muitas vezes não acompanharem a demanda de cada universidade, quer em qualidade ou quantidade de equipamentos. Uma das razões é que a IES não pode ficar "up to date" em todas as áreas. A parceria entre IES poderia redundar no oferecimento de laboratórios sofisticados e profissionais, já que orientariam investimentos para determinado setor, proporcionando aos seus alunos realização de trabalhos e projetos com maior quilate qualitativo, inclusive com a possibilidade de conquistar prêmios ou construir um "port folio" diferenciado para aceitação no mercado profissional. Arruda (1997, p. 177) coloca como um dos atributos para a proposta pedagógica de uma IES direcionada à qualidade o intercâmbio com centros de pesquisas e pesquisadores, até mesmo do exterior.
      Constatamos que as IES, por vezes, apresentam um corpo docente melhor qualificado ou titulado em determinadas áreas ou disciplinas. A soma positiva de tais recursos humanos e intelectuais pode redundar em benefício para as partes envolvidas, inclusive para os alunos e projetos de pesquisa. O mesmo se refere a estágios ou trabalhos de conclusão de curso, em que os alunos poderiam ser orientados por docentes de entidades conveniadas, ou mesmo partilhar de trabalhos de pesquisa conjunta, em que os direitos autorais da produção seriam atribuídos às IES envolvidas.
      Encontramos na própria LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) apoio para a formação de parcerias pelas IES:
      Art. 12: "Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de (...) Item VI: "Articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola."
      Art. 53: "No exercício de sua autonomia, são asseguradas às universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes atribuições(...)" Item VII: "Firmar contratos, acordos e convênios." Item X: "Receber subvenções, doações, heranças, legados e cooperação financeira resultante de convênios com entidades públicas e privadas."
      Não se pode ignorar que existem ameaças que impedem a formação e formalização de acordos entre as IES. Porém, a análise objetiva dessas restrições leva à conclusão que refletem mais paradigmas culturais ultrapassados e posições ideológicas de determinadas facções corporativas do que propriamente obstáculos reais e legais.
      O próprio governo reconhece nas parcerias uma forma de viabilizar projetos pedagógicos e educacionais, caso do mestrado interinstitucional. No documento publicado pelo MEC em 1997, intitulado "Parcerias entre IES na oferta de cursos de Pós-graduação", elaborado pelas assessoras da CAPES Maria Auxiliadora Nicolato e Rúbia Maria Melo Silveira, levanta-se uma série de argumentos para concluir que a formação, a capacitação e a titulação de docentes podem ser obtidas em convênios entre IES interessadas, e até mesmo com a CAPES financiando parte do programa. Estabelece cinco diferentes formatos: Curso Interinstitucional voltado para a capacitação docente, Curso em Consórcio, Curso em Parceria, Curso em rede e Curso à distância.
      Por exemplo, a modalidade Curso em Parceria: "Constitui-se no recurso encontrado por duas ou mais instituições que reconhecem que individualmente não tem condições de manter um programa de pós-graduação em uma dada área, por não atenderem, isoladamente, aos requisitos para tal empreendimento. Associam-se, então, em uma promoção comum, em que somam suas competências" (p. 9-10).
      Como foi colocada anteriormente, a decisão de estabelecer parcerias envolve estratégias, riscos e oportunidades, que precisam ser consideradas dentro da peculiaridade do setor educacional superior particular. Deve-se considerar que:
      a) A prática da parceria seja planejada, comprometida com um projeto pedagógico e com alcance de metas; que tal prática esteja prevista na missão e operacionalizada junto à organização administrativo-educacional de escola; a escolha dos parceiros reflete diretamente na imagem junto ao mercado e na percepção que os públicos internos possuem da IES. O processo não pode ser um casuísmo ou uma tentativa de recuperar a IES momentaneamente, daí a necessária na inserção da missão e nos procedimentos administrativos. Também precisa mostrar que tal procedimento com outra IES trará benefícios a todos os envolvidos, abrangendo a formação técnica e teórica dos alunos, resultando, assim, numa atividade a ser formalizada no projeto pedagógico.
      b) Que tal prática esteja inserida no incremento do relacionamento da IES com seus públicos, visando sua satisfação ou atendimento a interesses esperados e desejados. Neste caso, a parceria seria uma extensão da Qualidade educacional e organizacional. Faz-se necessário, por exemplo, que o acesso dos alunos de uma IES à outra seja confortável; que o uso das dependências ou recursos seja planejado; que os serviços prestados o sejam na integralidade em que foram acordados. Nos diversos programas de gerenciamento da Qualidade, incluindo os semelhantes aos modelos ISO, o estabelecimento de parceria, convênio ou cooperação é alvo de sistematização, porém tido como forma de integralizar a Qualidade num processo, serviço, produto ou instituição. Com a área educacional não ocorre de forma diferente, cabendo um plano de ação que indique a parceria como fator gerador de Qualidade para os seus serviços. Tal formalização dará subsídios para futuras consultas por parte de membros da comunidade, governo e públicos de interesse. Mas o ponto mais alto do estabelecimento de parcerias entre IES é a comprovação fundamentada que tal estratégia gerou índices maiores de satisfação e qualificação.
      c) Que a parceria resulte na maximização ou racionalização de recursos e estruturas, contribuindo para a competitividade da instituição, funcionando como alternativa para o incremento da imagem ou diminuição do impacto de custos nas mensalidades. Dessa forma, um posterior controle das despesas/custos em relação às receitas/investimentos deve mostrar um quadro positivo, permitindo considerar que o esforço concentrado em alguns setores trouxe um resultado global satisfatório, permitindo a IES crescer e tornar-se competitiva.
      d) Que a parceria entre duas ou mais IES esteja imbuída de mentalidade de cooperação, dentro de um plano de crescimento e interesse mútuo. Portanto, a aliança institucional deve ter o mútuo comprometimento, pois a melhoria circunstancial de situação de uma IES não garante o retorno a uma situação confortável, até porque sua retirada inoportuna da parceria poderá fechar as portas para futuras ocasiões, inclusive perante futuros parceiros potenciais.
      Todos esperam que as IES cumpram seu papel social, inevitavelmente ligado à excelência no ensino, pesquisa e extensão. Tal condição qualitativa tem se mostrado incompatível com os recursos obtidos, sendo o estabelecimento de parcerias uma estratégia para cumprir tal atribuição, diluindo com outras instituições os meios para alcançar os fins desejados.
      Mas não basta que as IES aprimorem esse mecanismo; precisam também conquistar a confiança de determinadas entidades corporativas, entidades governamentais, comissões de especialistas, comissões verificadoras, entidades estudantis, imprensa e outros públicos. Precisam mostrar que tal processo é legítimo e comprometido com a qualidade de ensino e pesquisa, algo a ser viabilizado com uma atuação cooperada das escolas e participação de alunos, professores e integrantes da sociedade.

      Referências Bibliográficas

ARRUDA, José Ricardo Campelo. Política & Indicadores da Qualidade na Educação Superior. Rio de Janeiro: Dunya, 1997

BULGARELLI, Waldirio. Fusões, incorporações e cisões de Sociedades. São Paulo: Atlas, 1998

CASTRO, Cláudio de Moura. Modelo de educação. Revista Veja. São Paulo: Abril. 19 de agosto de 1998. P. 110-115.

D’AMBROSIO, Daniela. FGV lança campanha para financiar bolsas de estudo. Gazeta Mercantil. 24 de novembro de 1998. P. C-8.

GOIS, Antônio. Fusão pode ser solução para crise. Folha de S. Paulo. 23 de setembro de 2000. P. C-1.

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MANES, Juan Manuel. Marketing para Instituiciones Educativas. Barcelona: Granica, 1997.

NICOLATO, Maria Auxiliadora e SILVEIRA, Rúbia Maria Melo. Parcerias entre IES na oferta de cursos de Pós-graduação. Brasília: MEC, 1997. (Parecer).

PIETRO, Maria S. Parcerias na Administração Pública. 3 ed. São Paulo: Atlas, 1999

ROSMUSSEN, U. W. Aquisições, fusões e incorporações empresariais. São Paulo: Aduaneiras, 1989.

SANDHUSEN, Richard L. Marketing Básico. São Paulo: Saraiva, 2000.

SIMKINS, Michael. Partnerships that work. Technology & Learning. Daitona. Fevereiro de 2000. Vol. 20, p. 40-45.

WERTHEIN, Jorge. A universidade no século 21. Folha de S.Paulo. 07 de outubro de 1998, p6.

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*Gino Giacomini Filho é professor dos programas de pós-graduação em Comunicação da UMESP e da USP, professor do IMES. Livre-docente em Comunicação pela USP.

 
 
 
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