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Gestão empresarial

:: A mídia e as melhores empresas para trabalhar

Wilson da Costa Bueno*

      Virou moda. As empresas jornalísticas, há algum tempo,vem insistindo na produção de edições especiais para festejar "as melhores empresas para trabalhar", uma jogada inconfessável de marketing e que tem como objetivo arrebanhar anúncios junto às empresas contempladas com um bom lugar no ranking e, também, atrair leitores que estão à procura de um emprego menos estressante. Muitas destas publicações têm um jeitão estranho de auto-ajuda, tentando ensinar aos possíveis candidatos fórmulas mágicas para vencer na vida. Na prática, eles acabarão descobrindo que o sucesso na batalha por um emprego depende de inúmeros fatores e que esses "ensinamentos" podem ser necessários mais jamais suficientes para quem pretende chegar ao topo.
      A pergunta óbvia é: dá para acreditar nessas "pesquisas"? A mídia é confiável quando elabora estes levantamentos? Os critérios são razoáveis e é possível acreditar que as empresas, que fornecem as informações, agem com lisura, transparência etc?
      Seria leviano se dissesse que tudo que está sendo publicado é picaretagem, mas seria ainda mais ingênuo se fosse bater o martelo para o que está aí até porque todos nós conhecemos muitas das empresas que figuram no ranking e, por inúmeros motivos, não é possível considerá-las como ambientes saudáveis, ideais para trabalhar. 
      Na prática, mesmo se estas "pesquisas" fossem corretas, elas flagram apenas um momento da vida das empresas. Tanto isso é verdade que as próprias empresas responsáveis pelos levantamentos reconhecem que a rotatividade neste ranking é enorme. A Great Place to Work (GPTW), que faz o trabalho para a revista Época Negócios, informa que, na lista de 100 empresas de 2008, 43 aparecem nela pela primeira vez, o que quer dizer que quase metade sumiu do ranking do 2007 para cá. O que se pode concluir? Que muitas das "melhores empresas para trabalhar" não mantêm esta posição nem ao menos de um ano para o outro. Logo, se você tivesse acreditado na "pesquisa" do ano anterior e tivesse ido trabalhar numa dessas empresas que figuravam no ranking, descobriria que ela tinha mudado de perfil. E poderia quebrar a cara.
      Além disso, a empresa melhor para trabalhar depende inclusive do que você vê como razoável. Eu, por exemplo, por mais salário que receba, por mais valorização que tenha internamente, jamais trabalharia numa empresa da indústria tabagista porque me sentiria desconfortável contribuir para a produção e comercialização de drogas (lícitas, eu sei), trabalhar numa empresa que mata milhões de pessoas em todo o mundo. Teria restrições a inúmeros laboratórios farmacêuticos (você tem acompanhado o episódio recente da máfia dos medicamentos envolvendo empresas que anunciam sua responsabilidade social aos quatro ventos) e não gostaria de estar em empresas que não respeitam os consumidores (mutilam dedos no banco traseiro do carro que fabricam, por exemplo), degradam o meio ambiente (falando nisso, que diesel e gasolina sujinhos andam entregando para a gente, hein?), estão envolvidas em casos de corrupção etc. Puxa, mas isso não é considerado pelas pesquisas, então as metodologias utilizadas são vesgas porque não enxergam ou incluem valores fundamentais de uma empresa boa para se trabalhar.
      Para que uma empresa seja considerada boa para trabalhar, ela não deve apenas remunerar bem os seus funcionários, pagar seus cursos de pós-graduação, fazer ações pontuais de filantropia (muitas não passam de "pilantropia") etc. Elas não podem praticar o endomarketing da humilhação, como faz a AmBev (você soube do processo - mais um - de assédio moral a que ela foi condenada no Rio Grande do Norte? Pois é, judiava dos funcionários e pelo menos eles, se fossem entrevistados pelas pesquisas, diriam que ela é péssima para trabalhar!), ser autoritária na comunicação interna, desrespeitar a diversidade e assim por diante. Uma empresa boa para se trabalhar não é aquela que é apenas "legal" para os seus funcionários, mas que também é responsável socialmente na verdadeira acepção do termo. Enfim, o buraco é mais embaixo.
      Alguns exemplos coletados aleatoriamente na revista Época Negócios sobre as melhores empresas para trabalhar (se os números estiverem errados, problema é da revista, porque foram extraídos de lá!) ilustram as nossas afirmações.
      O McDonald´s (a empresa do palhaço que vende gordura) tem 33.323 trabalhadores, dos quais 58% pediram demissão em 2007 e 22% foram demitidos. A empresa revela (está na revista, página 106) que nenhum funcionário tem pós-graduação, 1% apenas tem nível universitário e que 98% têm segundo grau ou menos. Vamos lá: como pode ser boa para trabalhar uma organização na qual mais da metade dos funcionários pede demissão e 80% não permanecem lá depois de um ano? Quem será que foi entrevistado para dizer que a empresa é boa para trabalhar? Além disso, do total de funcionários 58% são mulheres, mas apenas 32% delas ocupam cargos de chefia, ou seja, a diversidade está sendo afrontada. Mais ainda (e está na revista!), o clima lá é "de campeonato" (estarei transcrevendo agora literalmente). Diz o texto que apresenta o McDonald´s: "Os 34 mil funcionários da rede de restaurantes McDonald´s no Brasil competem o tempo todo entre si. São os desafios entre lojas e colegas, promovidos pela empresa que "esquentam" o ambiente. Há competições para ver quem num determinado mês vende mais batatas fritas ou copos grandes de refrigerantes. Os vencedores são homenageados, assim como o funcionário da unidade campeã que mais se destacou. A equipe do McDonald´s, formada em sua grande maioria por jovens em seu primeiro emprego formal, adora essas competições".
      O texto é mais do que propagandístico e revela a falta de espírito crítico do redator/editor. Afinal de contas, como os funcionários podem adorar essa competição, se 80% não estarão lá no ano seguinte? Se continuarão sendo profissionais sem nível superior e, se forem mulheres, menos chances terão (embora constituam a maioria) de ocuparem cargos de chefia? O McDonald´s quer dizer que as mulheres são menos competentes do que os homens, é isso? E também é bom, para a sociedade, uma empresa que promove competição para tornar obesos os filhos dos outros? Basta imaginar o que devem pensar os jovens do McDonald´s, que têm ali o seu primeiro emprego, depois que são sumariamente demitidos ou não agüentam a barra a ponto de, em sua maioria, pedirem demissão. E se essa é uma das melhores empresas para trabalhar, talvez entrem mesmo em depressão profunda depois da experiência.
      Enfim, ao que parece, nestes rankings malucos das "melhores empresas para trabalhar", os critérios são estapafúrdios, inconsistentes e têm como objetivo bajular empresas e enganar os que realmente gostariam de encontrar uma empresa séria, responsável, idônea, democrática para trabalhar.
      A melhor empresa para trabalhar existe, mas,  no mínimo, isso depende da perspectiva de cada um de nós. Se respeitamos o perfil de cada pessoa, pode ser que a competição desenfreada (essa de vender batata frita a qualquer custo) sirva para alguns e não para outros. Há empresas transgênicas demais (contrárias à diversidade social e cultural), há empresas predadoras demais (estimulam o uso de veneno na agricultura) , há empresas corruptas demais (infelizmente, o espaço aqui é curto para listar todas as que foram flagradas apenas este ano) , mas também há empresas que fazem direito a lição de casa. Pena que não estejam, muitas vezes, no ranking das melhores empresas para trabalhar porque os critérios utilizados são outros.
      Uma pergunta antes que eu me esqueça: será que as empresas de comunicação, que fazem e divulgam pesquisas das melhores empresas para trabalhar, mereceriam estar nesse ranking? Epa, mas isso é melhor deixarmos para uma outra vez. Se levarmos em conta o episódio da "Escola Base", linchamentos morais frequentes contra cidadãos, chantagens repetidas contra empresas, relações promíscuas com governos e autoridades, talvez a gente acabe concluindo que há empresas e veículos que não têm moral para julgar ninguém ou coisa alguma.
      Quando você for a um restaurante (???) daqueles que vendem gordura, seja legal com os meninos e as meninas que o (a) estão atendendo. Eles estão sendo pressionados para empurrar porcaria para você e seus filhos e, o que é pior, não estarão ali no próximo ano apesar de todo o empenho. Sem dúvida, é uma big sacanagem.
       Em tempo: como pode ter percebido, usei os dados da revista Época Negócios para ilustrar os meus comentários aqui. Qualquer contestação deve, pois, ser encaminhada para ela. Se ela forjou, errou os dados, talvez não seja também uma empresa boa para trabalhar.

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* Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor do programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP e de Jornalismo da ECA/USP, diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa.

 
 
 
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