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Assessoria de Imprensa

:: Imprensa, projetos de marketing e jabaculê

Wilson da Costa Bueno*

      Afinal de contas, os veículos jornalísticos estão  ficando ousados ou cínicos? E As fronteiras entre informação e propaganda/marketing estão sendo rompidas (ou corrompidas)? A transparência deixou definitivamente de ser um atributo do mercado profissional de jornalismo?
      As perguntas fazem sentido, se a gente observar o assédio vigoroso e nefasto dos departamentos comerciais sobre as redações, criando uma zona nebulosa entre o que tradicionalmente se chamava de matéria paga e o que hoje, hipocritamente, se considera como "projetos de marketing".
      Um exemplo contundente (mais um, na verdade, porque muitos veículos tem abusado dessa estratégia comercial suspeitíssima  há um bom tempo) são os projetos de marketing dos jornalões, como um suplemento patrocinado pela Petrobrás e publicado em O Globo no último trimestre de 2008 (na verdade, a Petrobrás publica cadernos pagos à vontade), com o objetivo explícito de proclamar o seu compromisso com a nação e a sustentabilidade.
      Há pouco tempo, isso era realmente chamado de matéria paga, de jabaculê (jabá para os íntimos) porque, no fundo, se trata efetivamente de uma tentativa (parece que não deu totalmente certo, não foi?) de enganar leitores desavisados que imaginam estar lendo uma matéria jornalística, com o endosso de um veículo de prestígio, quando na prática estão diante de uma imensa e cara (dá para imaginar o custo deste patrocínio no final de semana?) propaganda institucional.
      Vamos ser francos: é preciso, de uma vez por todas, que a imprensa tome uma decisão corajosa e transparente: vai sobreviver em função da qualidade da informação jornalística ou pretende mesmo estender as suas mãos para empresas e governos ansiosos por limparem as suas imagens? Vai continuar separando jornalismo de propaganda ou pretende finalmente assumir que o que interessa é ganhar dinheiro mesmo à custa da transparência ou da dignidade?
      Provavelmente, os jornalistas tradicionais, como eu, devemos estar mesmo vivendo num mundo que não existe mais, porque, pelo andar da carruagem, a imprensa já se transformou num formidável balcão de negócios, interessada em abrigar projetos de quem quer que seja para dizer o que bem entende.
      Mas há perguntas que devem ser feitas. Por que a Petrobrás não aproveita o espaço pago (cada um dos brasileiros acabou custeando esse suplemento, não é mesmo?) para explicar aos leitores porque temos que engolir uma gasolina e um diesel tão sujos? Por que não explica também o estardalhaço enorme (haja dinheiro gasto por nossa conta!) para falar, há pouco tempo, de uma autosuficiência alcançada e que nunca se realizou? Por que não explica as razões porque temos sido lentos e incompetentes  e, por isso, continuamos dependentes do gás da Bolívia? Vamos ter que sentar no colo do Evo Morales?
      O jornalismo brasileiro anda trocando, infelizmente, seus valores, sua transparência pela remuneração polpuda de empresas, públicas e privadas, e, desta forma, não pode se queixar das tiragens dos veículos que nem ao menos acompanham o ritmo do crescimento da população brasileira. Esta mesma imprensa deve aceitar calada o declínio da sua imagem junto aos leitores (vide pesquisa recente da CDN, aqui comentada anteriormente) porque tem sido ela mesmo culpada pela perda de seu prestígio ou credibilidade.
      Será que os nossos jornalões continuam acreditando que os leitores não estão percebendo as suas contradições? Será que eles pensam que não torcemos o nariz quando lemos editoriais críticos sobre a indústria tabagista e depois a encontramos como patrocinadoras de seus cursos de formação de jornalistas? Será que a mídia julga que somos, todos nós, ingênuos ou desatentos? Será que ela não se deu conta de que as suas mazelas, suas inconsistências, seus acertos por debaixo dos lençóis, estão cada vez mais expostos?
      Os projetos de marketing ou de mercado estão proliferando como pragas no jornalismo brasileiro e eles não contribuem em nada para ampliar ou melhorar o debate porque sobrevivem de informações comprometidas, "pau mandado" como diz o caboclo. Estamos precisando de informação qualificada, independente  e não de propagandas disfarçadas de matérias jornalísticas, com o intuito de ludibriar a audiência.
      Se tem sido necessário substituir propaganda por matéria paga, talvez esteja na hora de o próprio mercado publicitário rever os seus conceitos, visto que empresas têm preferido alternativas à propaganda tradicional, cada vez mais percebida, por determinados públicos, como inócuas. Será que por isso as agências e anunciantes têm optado pela matéria paga, agora denominada "projetos de mercado ou de marketing"?
      O jornalismo brasileiro só terá saída, se frear este processo de rendição.  Nem fascículos, nem fotos coloridas de paisagens ou celebridades, nem promoções de toda ordem poderão salvar a imprensa brasileira, se ela continuar abrindo mão de qualificar a cobertura e permanecer mais interessada no bolso dos anunciantes do que na alma e cérebro de seus leitores.
      A doença infelizmente pega.  Pois não é que a USP, nossa tradicional universidade, a maior da América Latina, andou fazendo um contrato sem transparência com uma gigante do veneno e dos transgênicos ,  com cláusulas que prevêem inclusive o sigilo das informações levantadas? Pode isso numa universidade pública? O que está escondido que a gente não pode saber? O que algumas empresas, com um passivo ambiental e ético tão grandes (agroquímicas, laboratórios etc), andam querendo das nossas principais universidades e institutos de pesquisa? Que contrapartida andam exigindo? Será que o cerco está facilitado porque as universidades brasileiras andam sucateadas e correm o pires com facilidade? Será que os salários estão tão baixos que determinados pesquisadores precisam comer na mão de empresas monopolistas?
      Um jornalismo investigativo entraria fundo nessa questão para descobrir se não há gente que anda jogando nos dois lados. Será que esse apoio era necessário, agrega alguma coisa para a USP ou apenas serve para uma empresa botar o dedão lá dentro e utilizar esta relação para limpar a sua imagem desgastada? Quem efetivamente estará lucrando com isso? Quem sugeriu ou encampou o projeto tem relações com a indústria de transgênicos? Talvez seja melhor estender a suspeita sobre os que transitam nas células-tronco porque, durante o debate e aprovação da Lei de Biossegurança, algumas pessoas desta área andaram de mãos dadas. Calma, não é denúncia, é dica, é hipótese. Uma boa pauta, talvez. Pode pelo menos investigar ou é para calar a boca e engolir a seco?
      Todos nós sabemos que não existe almoço grátis. Sobretudo quando são alguns interesses que pagam a conta.
       O jornalismo e outras instâncias da vida brasileira, ao que parece, estão contaminados. É melhor a gente abrir o olho. Projetos de marketing é a vovozinha do jornal O Globo. Na minha terra, é jabaculê mesmo. E educação pública não é espaço para investidas transgênicas. Preferimos a diversidade. Sempre.

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* Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor do programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP e de Jornalismo da ECA/USP, diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa.

 
 
 
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